quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Partir








Por vezes apetece-me partir. Apenas partir. Levando comigo o eu que transporto e que tantas vezes me pesa. Nos ombros. Na consciência.
Apetece-me partir sem me importar o regressar. Partir comigo, ou deixando-me para trás, deixando-me sentado numa beira de estrada indefinida e alcatroada pela vontade de ir.
Apetece-me apenas levar comigo os ecos que constantemente ressoam dentro de mim. Amálgama de pensamentos e de tantas palavras que desaguam num qualquer compartimento do meu ser e que ficam à espera que lhes abra a torneira do meu querer.
Para que finalmente possam gotejar na ampulheta da criatividade que tantas vezes torturo por dela nada querer.
Por vezes apetece-me partir. Transformar-me naquela silhueta que se desfaz no horizonte para alguém que acena nas minhas costas. Aquela silhueta que nunca fui para os outros. Mas que fui tantas vezes quantas as que deixei para trás as lágrimas que desenhei sem querer, as dores que moldei na paixão e que abandonei na esquina da eterna estrada sem fim que percorro.
Por vezes apetece-me partir. E voltar duma ausência por ti consentida.

Porque se algum dia partir será por ti. E se algum dia voltar, por ti será.

4 comentários:

Coccinella disse...

Não fomos feitos para viver com amarras. Não fomos, tampouco, feitos para ser livres.

Até breve!

Natália Bonito disse...

Partir no vazio cheio
Daquela giesta escrita,
Partir sem receio
Ancorado à premissa aflita
Daquele barco que veio
Em busca da reacção convicta.

"Partir"!!! Engraçado que este texto fez-me lembrar o conto "Saga", de Sophia de Mello Breyner, dado no já ido 8º ano de escolaridade. Hans também quis partir e fê-lo!

Cumprimentos poéticos,

Natália Bonito

AnaMar (pseudónimo) disse...

E eu que ensaio fugas e vou permanecendo...

Umas vezes vou mesmo. E regresso. Enriquecida pela viagem.

Mas por vezes, quero fugir de mim mesma e is já não é possível...embora consiga muitas vezes sair de mim.

Mas quando a partida não é fuga, mas apenas um novo começo, vale a pena.


Tu sabes.
E eu sei.

Cada vez que te leio nem quero crer que haja um Oceano a separar-nos as palavras.

Um beijo terno
Ana
Um beijo

Maria disse...

Partir, para quê?
Se connosco tudo vai
Nosso pensar, sosso sentir
Nosso suspiro e nosso aí

Partir, para quê?
Para fugirmos á verdade
Se connosco vai o sofrer
A angustia e a saudade

Partir, para quê?
P'ra esquecer o sofrimento
Se ele sempre ficará
Dentro do nosso pensamento

O partir só tras saudade
tristeza e nostalgia
E partir, só por partir
É Uma grande cobardia

Um abraço
Nicodemos