domingo, 19 de outubro de 2008

Esquinas da noite








Vagueio nas esquinas da noite
Olhando as janelas apagadas
Adormecido mundo, insone,
De tantas almas desamadas

Um latido de cão solitário,
Sobrepõe-se ao sino da igreja
Um corpo mexe-se sob o sudário
Permitindo-o que o entreveja

E as imagens surgem, de supetão,
Amalgamadas dentro de mim
Rebentando de exasperação
Ao imaginar teu corpo de cetim

Afinal és tu!
Tu que te mexes entre as sombras…

…naquela varanda alcandorada
Sobre o caminho que percorro
De uma rua vazia e empedrada
Em que me espreitas sem decoro

Peço então à primeira estrela,
Que passa por mim a brincar,
Que leve à tua varanda
A minha vontade de versejar

E tu sorris,
Sorris como só tu sabes sorrir
Convidando com o teu doce olhar
As minhas palavras a subir,
Permitindo-me em ti mergulhar

O resto foi poesia por detrás da lua
Espadachins de novas palavras
Que esgrimiram por entre a pele nua
Ideias jamais inventadas

E nasceu finalmente o sol
Por entre as frestas do nosso amar,
Campo de batalha, amarrotado lençol,
Tela imprevista para tanto ri(t)mar

Da loucura tinham nascido
Novos poemas, vagas sem fim,
Que por teres acontecido
Rebentaram finalmente em mim

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