ando com aquela vontade de para nada ter vontade. ando com aquela vontade de deixar morrer o tempo na ânsia de ressuscitá-lo e esperar que me acorde deste torpor. sinto-me amorfo, imaterial, massa humana que se arrasta no arrastar dos ponteiros. olho os pombos que defecam onde poisam, debicando beatas de cigarro, folhas mortas, que andam para trás e para a frente. sem rumo. vida insípida, defraudada de futuro. limitada entre duas asas. mas o pombo voa, e com ele voa a liberdade. eu não voo, mas sou livre. ando com aquela vontade de ter muita vontade que algo aconteça. expectante. delirante. viciante. ando com aquela vontade de ser recuperado por um anjo de seios perfeitos, de mãos ousadas, de olhar perturbador, de corpo moldavel aos instintos do meu prazer. olho o mendigo que estende a mão à sensibilidade da senhora altiva que por ele passa tornando-o ainda mais mendigo pela sua atitude de indiferença. merda de mulher, penso para comigo. merda de sociedade, deixo escapar entre dentes. ando com aquela vontade de preguiçar. de deixar que sejam as palavras a puxar por mim, a arrastar-me para o seu delírio de ideias e composições poéticas. ando com aquela vontade de explodir em mil sons, em mil tons, em mil orgasmos e saber que, afinal, ainda estou vivo. olho o mês de agosto que transforma a cidade num pardieiro quase fantasma, cidade que permite evacuações auto consentidas para paragens mais ou menos longínquas. tenho a cidade para mim. e nela o anjo que me virá resgatar com o seu sorriso, a sua boca, o seu olhar colorido por desejos (in)confessáveis. pelo seu corpo feito poema e que me fará de novo viver. e no viver reinventar a escrita. |
Até breve
Há 11 anos
1 comentário:
Desenha-se a vontade
Na vontade de ser vontade
No murmúrio da cidade
No vício da vaidade
No rigor da liberdade
Na sombra da ansiedade
Na fileira da saudade
Na poética da irrealidade.
Que a tua vontade seja sinónimo de identidade nos desígnios de uma escrita para a eternidade!
Natália Bonito
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