quinta-feira, 14 de agosto de 2008

"você vai precisar de uma mulher a cada livro"







pergunto-me até que ponto esta afirmação, ou diagnóstico, de Scott Fitzgerald para com Hemingway, quando se conheceram em Paris, fará algum sentido, ou terá alguma consistência...será que é sempre a outra mulher que o poeta procura? aquela mulher que, como gota de água em solo desértico, é necessária à sobrevivência do seu míster poético? será que é sempre a próxima mulher que fará com que o poeta se transcenda e ultrapasse a barreira da imaginação e da criatividade? será que a poesia do poeta se desenha em peles macias e ambarinas, escorrendo por entre as pregas de um corpo amado? porque será o poeta um insatisfeito? porque todo o humano é insatisfeito? porque será o poeta um permanente descobridor de sensibilidades e emoções que armazena em si próprio para mais tarde crucificar no papel? porque será o homem ou a mulher esse objecto de intenso desejo posteriormente dissecado em rimas, prosas ou delírios literários de toda a ordem? porque o humano é um ser que precisa sempre de algo mais. de mais prazer, de mais felicidade, de mais amor, de mais risco, de mais aventura, de mais poder, de mais sol, de mais lua, de mais beijos, de mais abraços, de mais água, de mais sorrisos, de mais palavras. porque será o poeta o coitado sobre quem recai o castigo? o dedo acusatório? a incompreensão dos restantes humanos? pobre poeta e escritor. feliz do poeta e escritor.

3 comentários:

Coccinella disse...

"Amamos sempre no que temos o que não temos quando amamos"

Fernando Pessoa

Coccinella disse...

António,

A insatisfação humana, creio, existe porque saber mais torna-nos mais pequenos perante o imanente. Não digo que o conhecimento seja infinito. Mas uma coisa é certa: há sempre uma opção diferente da que escolhemos. Não há erros. Há escolhas. E quando escolhemos, há sempre "a outra" escolha.

Daí ter tocado no poema de FP, que descreve esse desejo de outrém.

Espero conhecê-lo em breve,

Joana A.

Natália Bonito disse...

"Pobre poeta e escritor",

Faz da tua pobreza
Um verso escrito ao acaso
Que não iguala a beleza
De ser poeta neste espaço;

Pois só assim dirão:

"Feliz do poeta e escritor"

Que na ímpia imensidão
Desenha versos com fervor
Sentimento e libertação
De uma vontade de ser criador
No reflexo da criação.

Que a plenitude da escrita seja a inquietude de ser poeta e escritor com alma e atitude!

Natália Bonito